Friday, April 6, 2007

Substância



Havia uma terra vulgar, de gentes comuns, de animais normais, de plantas banais, sem algo que a distinguisse ou distanciasse. Ninguém dali saiu ou foi para lá, jamais se ouviu falar de tal sítio, nunca faria que valesse a pena. Tudo nascia e crescia de modo habitual, nada deixava de morrer como de costume. Não tinha nome ou sequer profundidade. Situava-se até onde ela existia, o céu que a acobertava parecia sempre igual. E, se apenas colhia uma realidade, entre as várias mas habituais vivências, nem memória poderia suscitar, pela qual se estimulasse um futuro.


Presumia um presente, constituía uma presença.


Ora, sobre essa naturalidade, eis que avulta um imprevisto. Paira um pássaro de ferro – que lhe perturba a nitidez, que lhe altera o clima. Estranho, inevitável. Largando nuvens, gerando névoas, cobrindo-a com um denso manto da noite... Talvez um dia não esteja, talvez a terra volte a ser pura e simplesmente.
09MAR2007

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