Friday, April 6, 2007

Calçada



Solitário, jaz em cima do passeio. E, sobre ele, caminha gente indiferente. Repassam outros de regresso, ou que falharam o seu destino. Talvez os que o pisam cabisbaixos reparem nele.


É um aviso. Um vulto vítima. Um recorte de pessoa sem contornos regulares. Tracejado ao estilo dum alerta próximo e urgente, mas rápido e fortuito. Vamos lá ver se adiantou alguma coisa.


Depende da qualidade da tinta, sua definição vital. Da resistência a quantos o calcarem, sua motivação virtual. Reveste, aliás, um desígnio indelével – deixar marcas nos que transitam.


Está de rastos? Em pose oblíqua? Em postura equívoca?


Porque será? Quem o fixou? Sujeito acaso em lugar errado?


Valerá de alguma coisa? Ainda foi para ali a tempo?


Tem tantas letras, mas dá poucos sinais de si. Será aquela mancha no peito. O coração, parece. Esvaído, talvez nem sinta. Sem ânimo, sem relevo. Latejando, irrelevante, na calçada.
16FEV2007

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