Friday, April 6, 2007

Errância



Naquele invernoso entardecer, em lugarejo bravio, junto à estrada bordejada pelas penedias, a natureza em transe mais parecia um inferno frio e feio. Exausto, entristecido, Folião enroscou-se ainda mais, no meio de umas silvas. Porém, antes assim, ao relento, do que ceder, cheio de vergonha, à desdita que o havia posto em tal situação, deslocado entre o destino e a existência. A simples consciência funesta era-lhe insuportável. E sofria, no próprio corpo, as consequências do infortúnio.

O dorso de Folião foi sacudido, ao espirrar em convulsão. Os bigodes ficaram todos húmidos, e não era capaz de controlá-los. Além disso, famélico e sedento, com os rins arrebentados, tinha urinado sem querer pelo pêlo e na terra em volta, que em vão tentou limpar com a patita.
Folião era apenas um gato pingado, com o rabo entre as pernas. A sua história começa com o princípio do mundo.
16MAR2007

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